Rupi Kaur foi proibida em alguns estados americanos

É, vai que as mulheres descobrem que são vítimas de violência doméstica.





Sobre poesia, o que tenho a dizer é que por ser muito curta, muitas vezes a gente esquece o texto.

Mas também por ser curta, a gente acaba decorando versos lindos.

E algumas, não tão mais longas assim, tem histórias inteiras contidas. 



(como essa, da pg. 10 do livro "meu corpo, minha casa", da Rupi Kaur)




Vi num canal do youtube, que classifico como “artesanal”, uma mulher mostrando suas atividades num feriado. E me foi impressionante que ela tenha passado duas horas completas lendo algo (e olha que ela ainda leu por vários momentos naquele dia).


Às vezes a gente se prepara para um feriado querendo sair, assistir algo, mas, por vezes, tudo que a a gente precisa é (um banho de chuva!) por os livros em dia. Terá um efeito muito mais calmante e verdadeiramente “descansativo” do que outras atividades.



Estou vendo mais vídeos sobre comunismo e sobre a crítica de que até o lazer deve ser produtivo: Eu termino um livro, para que eu possa postar. Eu assisto a série que todos estão assistindo para poder falar a respeito. Eu caminho, para poder “pagar o treino” no dia em que a academia está fechada.





No vídeo “artesanal”, entre outros livros, a mulher estava lendo “meu corpo minha casa” da Rupi. Livro que tenho aqui em casa, mas nunca tinha lido uma linha, embora tenha gostado dos dois primeiros.


Enquanto os dois primeiros falavam mais de relacionamentos, neste terceiro a Rupi fala mais sobre produtividade. Ou talvez eu esteja focando mais nesse assunto. Nesse mundo em que acho que estão todos “burnoutados”. Eu não, as assessoras da Defensoria a minha volta.



Minha vontade é dar um livro para cada uma delas.


Mas não sei se todas vão ler, ou se verão o que eu vejo.


Quem sabe uma poesia pontual resolva, desperte a curiosidade.


Quem sabe uma dessas aqui:






Já sei porque querem proibir a Rupi. 
Porque ela consegue ser didática a ponto de fazer 
listas para quem está perdido. (pg. 37)






Por fim, um recado para escolher bem como perder seu tempo. Em todas as perspectivas: seja com quem você passará bons momentos, seja com quem você vai escolher se estressar. (pg. 82)



EXTRA: A Lília de 22 anos e meio gostaria de falar.


outros jeitos de usar a boca, Rupi Kaur


O livro, todo escrito em letras minúsculas, independente de pontuação, inclusive no título, traz uma boa palavra em momentos chave da vida feminina. Como se as letras miúdas viessem de mansinho, sem imponência.

Divide-se em quatro partes, a dor, o amor, a ruptura e a cura. Pode ser lido de forma não linear, mas ao seguir a sequência elaborada pela autora, pode-se cogitar que seu eu lírico teve uma infância abusiva, violenta e sem amor – “você tem dores/ morando em lugares/ em que dores não deveriam morar” (pg. 27).  

Depois a personagem cresce e arranja quem amar de verdade, seja um irmão, um namorado ou a ela mesma – “estou aprendendo/ a amá-lo/ me amando” (pg. 55). Mas, em breve um de seus relacionamentos afetivos se dissolve em brigas até a ruptura, parte mais extensa do romance.

Um dos poemas “você sussurra/ eu te amo/ o que significa é/ não quero que me abandone” (pg. 92), leva a crer que o parceiro do eu lírico foi abandonado. No entanto, por vezes os poemas vão e vem trazendo novos culpados e motivos para o término, assim a autora, a um só tempo além de angariar mais “adeptos”, mais pessoas que se veem como possíveis escritores do poema, torna verossímil a história que envolve a trama, porque a ruptura, geralmente, não possui apenas um culpado.

Outra sensação é a de que esse relacionamento cheio de erros, brigas e desrespeito não deveria se quer ter existido: “o amor fez com que o perigo/ em você parecesse seguro” (pg. 104). Até que enfim, retorna-se à racionalidade: “começamos/ com sinceridade/ vamos terminar/ assim também” (pg. 123). Mas o momento de força, como não deveria deixar de ser, também se enfraquece e uma das recaídas pode ser extraída do trecho: “fica/ eu sussurrei/ enquanto/ você fechava a porta” (pg. 130). E, quem sabe, a figura da moça de cabelos enrolados em coque, sentada no chão de costas, contemplando o vazio, ajude a entender a passagem “o jeito como/ vão embora/ diz/ tudo” (pg. 143).

Mas é chegada a hora da cura! Que começa com a percepção de onde estamos e do que queremos, conclusões que podem nos fazer entender o quão na fossa estamos. No entanto, o poema “a questão sobre escrever é que/ não sei se vou acabar me curando/ ou me destruindo”, pg. 148, em minha visão, revela um temor que só é concreto enquanto não se executa.

E aos poucos a personagem que não diz, mas suponho ser mulher, retoma suas origens do amor, e diz a si mesma “você precisa começar um relacionamento/ consigo mesma/ antes de mais ninguém” (pg. 150) e compreende à pg. 159: “agradeço ao universo/ por levar/ tudo o que levou/ e por me dar/ tudo o que está dando/ - equilíbrio” e agradece às dores a oportunidade por escrever e ser a 1º lugar na lista dos mais vendidos no The New York Times.

O livro é, por fim, cheio de conselhos para aqueles que estão em momentos difíceis em seus relacionamentos e para quem se julga do sexo feminino que estão se diminuindo ou sendo diminuídas por um relacionamento, trabalho, família, igreja... É, definitivamente, para aquelas que precisam ouvir que são mais fortes do que foram condicionadas a achar.

Sinop, 23/08/2017

obs: escrevi esse texto na biblioteca da Unemat, na época que ia lá estudar.




A Lília de hoje foi tomar café na Tia Ia com a família, não leu nada ainda. Mas com certeza lerá nesse feriadão de Corpus Christi!



#Livros



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