COVID e a insegurança alimentar no Brasil

Quase na hora de tomarmos a 4ª dose da vacina do COVID-19 fomos infectados pelo vírus.

Tenho certeza de que peguei no trabalho, de uma superior. Que depois disse que só pega covid quem faz exame. Ela, no mínimo, passou um gripão para, pelo menos, mais duas pessoas.

Fiquei muito ruim num domingo, associei à menstruação, trabalhei segunda e terça, até que na quarta, Marcelo sugeriu um exame de covid porque a colega de teletrabalho estava com sintomas e fez o exame. 

Meu teste rápido que levaria 15 minutos levou 30 segundos de tanta covid que eu tinha. Marcelo foi fazer também, o dele demorou o tempo total. Fomos ao hospital, atendimento super rápido, cada um atendido por um médico diferente.

Meu médico passou um atestado de cinco dias (porque eu já estava ruim há dois) e disse que eu não poderia voltar a trabalhar se dentro das últimas 24h ao retorno eu ainda tivesse algum sintoma. Iei! Atestado com perspectiva de alargamento!

E veio numa ótima hora porque estou estudando para prova de Defensor Público do MT!

Mas depois do diagnóstico a gripona que eu achava que estava, se intensificou. Fiquei ruim: tosse, indisposição, nariz trancado. Melhorou depois do terceiro dia do atestado. Retornei ao médico no fim do atestado, mas como não era o mesmo, este deu a orientação para eu voltar ao trabalho pois eu não transmitiria mais a doença (pediu desculpas pelo atendimento do médico anterior também, e botei mais fé neste segundo atendimento porque ele auscultou meu pulmão).

No trabalho me perguntaram como eu estava. Respondi a todos, mas o melhor retruque foi da minha agente contaminadora, algo como: “você ficou ruim depois da notícia? Então foi psicológico”. A saúde mental/emocional é um dos pilares da saúde humana. Mas ela não percebe isso direito pois o marido não colabora para a saúde mental dela.

Mas o melhor comentário de todo esse acontecimento das nossas vidas veio do médico do Marcelo: Ao ser perguntado, Marcelo disse que come bem, toma vitaminas, inclusive estamos suplementando com vitamina D, tomamos vitamina para cabelo etc. O médico comentou que pelo SUS costuma passar complexo vitamínico intravenoso pois a população tem pior alimentação.

Ouvir do médico essa pontuação veio justamente na semana que levei meu avô ao médico porque ele estava com uma crise de infecção urinária e febre (pode ter sido lá que peguei covid também…). Os sintomas se foram exatamente na hora que chegamos na UPA, já que ele parou de ter dores, ir ao banheiro e não tinha febre. Obriguei a enfermeira a fazer novamente a medição da temperatura, mas a febre já tinha se esvaído. Ao ver a pulseirinha verde no braço dele, indicando urgência zero, me chateei imensamente: não iríamos sair de lá tão cedo (eu, Sofia e vô Catonho).

Por fim o atendimento foi rápido e terminou com o já conhecido soro amarelinho de vitaminas que dá uma fome depois que chega em casa! Sempre dá certo com meu vô!

Me lembro de estar sentada com meu vô na sala de terapias e reparar nos soros dos outros pacientes. Sempre que via o soro amarelinho pensava: essa pessoa não tem nada demais. É só um placebo do sistema público. 

Mas não. É a solução imediatista do governo que supre a insegurança alimentar só quando a pessoa dá sinais de queda. É outra vertente daquilo que eu ouvia na escola: para cada R$1 não gasto em saneamento básico é preciso R$4 para a saúde.  

Para as pessoas que tem de fazer sopa de ossos, um soro amarelinho quando desabam.


Obs: Nessa semana falamos com a mãe do Marcelo sobre nossas covid (nossas e deles que também estavam saindo de uma rodada de vírus) e sobre a insegurança alimentar do país. Também pontuamos que as pessoas não sabem/querem o que é saudável. Vegetais são mais baratos que carne, mas há quem ache que ainda faltaria “mistura” nesse prato.


Notícias:

08/06/2022: (...)  Ao todo, são 125 milhões de brasileiros nessa condição, sendo 59 milhões em insegurança leve, 31 milhões em insegurança moderada e 33 milhões em insegurança grave (situação de fome) (...)   - https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/06/08/inseguranca-alimentar-33-milhoes-passam-fome-no-brasil-diz-pesquisa.htm?cmpid=copiaecola


14/07/2022: 'Minha filha nasceu desnutrida': 10 milhões de crianças sobrevivem em famílias com R$ 300 por mês (...) Durante a gestação, Vitória passava o dia em busca de reciclagem para vender e comprar comida. A alimentação dela sempre foi baseada principalmente em embutidos, como salsicha e linguiça, além de refrigerante, salgados e iogurte. Hoje, a rotina é quase a mesma e frutas e legumes são raridade na casa da família. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62068448



Depois de dois anos e meio fomos encontrados pela Covid! :/ Foto em SP (parque em frente ao Masp) que parece mais em frente a um milharal. Milho é altamente produzido pela agricultura no BR, mas é comida para animais ou se transforma em salgadinho com zero qualidade alimentar.

Portinari e suas duas obras sobre a fome no Brasil: Os retirantes e A criança morta. Obras da década de 1940 que refletiam uma parcela da realidade da época. Hoje a desnutrição também se encontra em corpos com obesidade.


Visita do sobrinho do meu vô, Euzébio (Zebo), filho do Paulo (irmão do vô) e Luzia. Ele cozinha muito bem e fez essas paneladas de comida.

Descascando milho roubado da beira da estrada para fazer um cural. (Abril de 2020)

Tio Pituca registrou a janta que deu para os velhos no fim do dia. As meninas (Eu, mãe, tia Ana, Sofia e Dudu, que é menino) estavam no shopping passeando e lanchando.


#VôCatonho

#Marcelo

Comentários

Postagens mais visitadas