BLACK DOG



Pretinha morreu hoje, com cerca de 90 dias. Eu tinha muita curiosidade em saber como ficaria adulta. Quando ela chegou, me imaginava dizendo: “minha cachorrinha morreu hoje com 12 anos”, mas aconteceu cedo demais. 


Ela chegou dia 13 ou 14 de janeiro/2022, provavelmente abandonada por um vizinho que se mudou.  Ela era bonita, toda pretinha e filhote. Por alguma razão – conhecida – me foi incumbido o cuidado médico dela. Então dei vacinas e vermífugo.


Essa semana tomei a terceira dose da vacina do Covid, as duas primeiras foram pfizer, mas a terceira foi AstraZeneca e bateu com tudo, tive febre e mal estar no dia da vacina e seguinte. No terceiro dia, estava melhor, e como era um sábado minha mãe me pediu para olhar para a cadelinha que não estava comendo desde quinta.


Fui ao vet usual, não era o mesmo, era uma moça. Ela deu remédio para o fígado, e aguardamos o resultado do exame de sangue que ficou pronto em poucas horas. A receita médica veio dali alguma horas também e o diagnóstico já não era mais o fígado, era infecção. 


A cachorrinha não comia, então amassei alguns fígados cozidos e dei na boca dela através da seringa. Ela pareceu gostar e me deu um alento, já que agora ela estava com os remédios certos (os quais amassei com água e dei na seringa). Foi lá pelas 18h que percebi que deveria acompanhar a cachorrinha de perto, porque se um cachorro adulto pode ser considerado um bebê de três anos, imagine um cachorro bebê.


Eu disse que ia dormir nos meus avós e eles disseram que não precisava. Mas não era por eles. Não agora.


Eu fiz meu melhor, mas eu não sei nada de cãezinhos. Eu via que ela não estava melhorando. Melhorar é dormir, e ela não pregou o olho um segundo a noite. Às 4:20 quando acordei de um cochilo por causa de um murmuro de dor dela, resolvi levar ela para internar. Eu não podia ficar mais em volta dela – não no calor, não com gente fazendo perguntas em volta, não com as coisas que quero fazer pendentes (tenho provas para fazer) – então liguei para uma veterinária que aceitou recebê-la. 


Foi tão fácil deixar ela lá. Tanto que eu deveria ter feito isso ontem, mas a vet que acompanhava minha cachorrinha não tem internação e, aparentemente, não cogitou fazer a indicação.


Cheguei às 5h no vet, e vinte minutos depois eu estava em casa e a cachorrinha em muitos melhores cuidados.


Fiz café para minha vó – há anos não faço café, mas minha vó disse que acertei tanto no pó quanto no açúcar –, lavei a louça, lavei os poucos panos que Pretinha sujou e organizei a sala onde dormi. Vim para casa, tomei café e dormi. Acordei às 10h, e olhei no celular a mensagem do vet dizendo que ela não resistiu e morreu às 9h; e que seu eu quisesse, daria destinação ao corpo dela.


Quando a levei para internação, o vet disse que poderia ser leptospirose. Depois que ela morreu, ele disse que pode ser a doença do carrapato. Em 24 horas recebemos quatro diagnósticos. 


No meu trabalho eu erro muito pouco, pouquíssimo mesmo, então sou meio intolerante. 

Podem ser variáveis completamente diferentes, mas
 se tivessem me dito ontem que era preciso internar, quem sabe a cachorrinha, embora tivesse o mesmo fim, teria sofrido um pouco menos.


Eu disse para o Marcelo que estou tentando não sentir raiva. Não descontar na minha mãe que poderia ter levado a cachorrinha por conta própria já na sexta a tarde, em vez de deixar para eu fazer no meu sábado de folga. Não culpar a primeira vet que em vez de determinar que eu fizesse a cachorra comer para recuperar a cor, internasse induzisse a alimentação e orientasse transfusões.


Quem sabe se eu tivesse dormido em casa, a cachorrinha tivesse morrido a noite. Quem sabe se eu não tivesse levado para internar nessa madrugada, ela tivesse morrido a tarde porque teria aguentado um pouco mais com algum carinho contínuo da minha mão.


Quanta hipocrisia da minha parte dando fígado na seringa para uma cachorra e espantando gatos ao redor (um deles visivelmente doente).


Minha família materna, embora rural, não é pet friendly. Levei a cachorrinha na manhã de sábado ao vet e disse ao meu vô que viria a tarde ver ela e esquentar a janta dele. Ele me disse: “você vem para o enterro?”. Ele sabia que a morte era certa.


Nem posso mensurar o quanto esse comentário foi doído e de uma percepção de que minha família não tem a humanidade desejada: meu primo Luiz, por exemplo, atropelou o prórpio cachorrinho (dado pelo meu pai) e o viu quatro dias com dor até morrer de vez; já o outro cachorrinho (da mesma leva de filhotes), chamado Xavante, era extremamente magro e não parava em casa; se via ele na rodoviária, pode ter morrido ao atravessar a BR.


A humanidade perpassa a capacidade de se solidarizar com os animais. Ou seria uma etapa evolutiva?


Na família do meu pai há mais amor pelos animais. Talvez eu pudesse ter lidado melhor com a Pretinha se tivessem me ensinado a respeito. Vá lá, mais um item da lista de coisas que meu pai poderia ter me ensinado se não tivesse ido embora.


No fundo do meu coração eu acho que foi melhor ela morrer. Ela estava tão fraca e numa família que não cuidava dela como ela merecia. Por isso quando eu choro é só de saudade, e não uma vontade de mudar as coisas. Aconteceram como tinham de ser.




https://www.instagram.com/p/CZpzJ55A2ue/


https://www.facebook.com/rosa.carraracacefo/videos/3189219511401736


16:30H

17:45H





#cachorro

Comentários

Postagens mais visitadas