CRACK

My mom snaped.

Mas calma, isso vai acontecer muitas vezes ainda. 

Eu aqui de fora vejo algumas razões: 

A primeira é: Edineia não virá mais dormir nos meus avós. Tudo começou porque minha vó disse que não estava podendo pagar a parte dela do rateio num dia que meu vô brigou feio com ela. Edineia disse que cobraria R$1500, mas no decorrer do mês acho que pensou melhor e pediu para sair. Disse que o salário era pouco, não dormia, não tinha pagamento de férias, hora extra, adicional noturno e carteira assinada. O que responder? Ela tem razão.

A contratação dela me pesava um pouco na consciência. Primeiro contratamos uma menina de 14 anos para o trabalho noturno sub-remunerado (eram R$400 naquele tempo). Depois contratamos uma mulher negra sem qualquer direito trabalhista (apenas pagamos o décimo terceiro proporcional aos sete meses de trabalho).

A segunda razão foi que no fim do ano os familiares vieram e ficaram alguns dias o que, de certa forma, diminui o trabalho de ficar com meus avós – na verdade o que acontece é que meus avós demandam menos nesses dias, porque tem menos reclamações e movimentações dentro de casa–. Meu irmão também estava e fazia passeios com minha mãe (ainda acho que esse precedente é tenebroso: me vejo no futuro ressentida porque meu irmão é o filho do passeio e eu sou a da responsabilidade).

Aí veio o começo de ano, cada um de volta a sua rotina e claramente minha mãe não está feliz com a dela. Ela mandou um áudio, pediu ajuda presencial, disse que é uma empregada doméstica devota 24/7, sem direitos (se defendeu com argumentos trabalhistas). Ainda, com uma patroa que diz que é obrigação e cita o nome de tantos outros familiares que cuidam dos mais velhos da família.

Nesse ponto minha vó está erradíssima: não é obrigação, é escolha. E quanto aos primos distantes que cuidam dos seus pais, certamente há dias de questionamento.



Assisti um vídeo no youtube sobre velhice que não consigo me lembrar qual era, mas um dos comentários indicava um documentário chamado Alzheimer na Periferia (do diretor Albert Klinke). Assisti no mesmo dia em duas partes, uma antes e uma depois de uma tarde com meus avós.

Sob a perspectiva de quem cuida de uma pessoa com Alzheimer, o documentário traz algumas histórias, e como não são de pobreza extrema fica fácil de se identificar. Vê-se que a maior dificuldade não está em ser cuidador sozinho mas da própria doença, que é progressiva.

O ditado “uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de uma mãe” é verdade na medida em que é muito mais difícil de cuidar do idoso. Primeiro porque ele não obedece como uma criança, segundo porque o futuro é degenerativo e não de desenvolvimento.

Quando minha mãe deu um crack eu fiquei triste, como se fosse um luto, eu não sabia como falar com ela. Isso já foi tema da minha terapia: numa sessão eu disse “vou obrigar minha mãe a contratar alguém por um dia para ela fazer as próprias coisas”, e na próxima eu disse: “desisto, vou apenas fazer o que me mandarem fazer” e naquele mesmo dia eu fui fazer o almoço dos velhos porque minha mãe tinha tomado a segunda dose da vacina COVID-19 e estava péssima.

Dessa vez fiz o mesmo: disse “eu fico no sábado, fico no domingo também, se quiser”. Claro que no fundo do meu coração eu pensava “não conseguirei por muito tempo, mas deixa para ver isso depois”. Meu tio veio também, mesmo com tia Ana recém saída de uma internação por conta de uma gripe (que assola o país, já que tudo virou epidemia nessa merda, nada se controla).

Ontem, sábado, fiquei a tarde com meus avós, fiz a janta do vô. Minha mãe aproveitou para ir na escola de filosofia para ajudar a limpar, porque nessa semana recomeçam as aulas. Hoje dei uma passada, larga demais em relação ao meu querer, já estou sem saco. Imagina minha mãe.


Documentário Alzheimer na Periferia:

https://www.youtube.com/watch?v=sNg54_B8UBE&ab_channel=AlzheimernaPeriferia


#Avós #mãe #tioPituca #Felipe



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