Trincheira de dois anos







A viagem ao Chile resplandece até o momento. Não sei se porque a perspectiva de novas viagens é baixa ou se pelo real valor dela. Certamente não foi a melhor viagem que fizemos, mas a mais interessante para o momento em que vivemos.

O governo brasileiro está ruim, estou especialmente irritada com a forma como estamos gastando dinheiro com benefícios sem muito critério e como a educação está sendo deixada de lado. Mas, me limito a respirar mais fundo e pensar que desse governo serão mais dois anos e depois “troca”.

No entanto, a perspectiva de um novo governo me parece um privilégio quando em muitos momentos da história as pessoas tiveram uma ulcerosa incerteza sobre quando o governo vigente teria fim.

Assisti hoje ao filme “A trincheira infinita”. Um espanhol dito como criminoso político se escondeu num vão da casa até que fosse seguro sair. Foram décadas até a lei de anistia do ditador Francisco Franco. Me parece psicologicamente pior do que uma condenação em si.

Quando uma pessoa recebe uma condenação, vamos até ela e dizemos, por exemplo: “Sua pena é de 25 anos, você terá de ficar preso por 2/5 dela, portanto poderá sair em 10 anos. Depois você pode cumprir a pena em regime semiaberto”. A pessoa esperneia, mas assimila, por fim diz que quer recorrer e nos asseguramos disso.

Já as pessoas que vivem descontentes com o governo ditatorial, seja em cativeiro ou fora dele, ficam na expectativa de quando ele mudará. Não sou de revoluções, tenho medo das punições. Por isso me coloco no imenso extrato dos temerosos que não fariam nada a respeito.

Assim, atualmente esperarei 02 anos por mudanças positivas e posso me agitar para não voltarmos a ditadura. Mas se ela se instalar, não farei nada a respeito não ser esperar por tempo indeterminado por mudanças positivas, que pode ser muito semelhante ao estado anterior.


08/07/2020



Fotos: filme "A Trincheira Infinita" (2019), Netflix.

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