Joseph Doe

Sempre vi o José como um cara bobão, homicídio privilegiado, sabe? Briga de bar. Só um cara esquentado, desdentado, o que me fazia ter um pouco de pena. 

Mas ontem tive medo de dele.

O retorno ao atendimento presencial me fez rever seu tamanho, a altura de sua voz e sua vitalidade. 

Ele veio dizer que estava sem tornozeleira. Logo agora! Pertinho do prazo de se ver livre dessa condição. 

A tornozeleira já estava desligada desde setembro. Em outubro passou na Defensoria e atendi ele lá na frente, pedi que fosse na central de monitoramento fazer uma revisão. Não foi, aí em novembro foi fazer compra no mercadinho do bairro e o pessoal da facção chamou para conversar. Ele foi, porque para facção não se dá as costas. Lá meteram o pé na tornozeleira e arrancaram ela só para fazer graça, prejudica-lo. 

História difícil de acreditar? Mais ainda se considerar o cheiro forte de tabaco, a imprecisão das conversas e a dificuldade de contato visual.

“O juiz vai perguntar quem tirou sua tornozeleira, você dirá quem foi?”. “Conheço por vulgo, não tem mais nome dentro da facção, mas eu falo, tem que falar, né”.

Tive medo porque não sou pequena, mas seria moída caso ele surtasse. Não sobraria nada de mim, caso ele não quisesse.



Tom Hanks, Michael Clarke Duncan e David Morse no filme "A espera de um milagre", 1999


#DefensoriaMT


Comentários

Postagens mais visitadas