Leve-me ao médico

 



Meu primo, mais uma vez, veio com a ideia genial de levar meus avós para Santa Helena, porque lá “eles têm mais amigos”. Será mesmo? Será que o tempo não passou para os amigos tanto quanto para eles? Acho que sim, os que não estão recolhidos em casa estão mortos. 

Meu tio respondeu meu primo: “e quem vai cuidar? Você será o primeiro a escapar para o garimpo”. Eu disse para minha vó que ele nem cuida dos filhos dele, quanto mais dos avós. No dia que ele vier aqui e puxar uma conversinha com o vô a gente volta a falar no assunto. Falei também: “e quem vai levar a vó uma vez por semana no médico igual eu levo?”.

Nesse ano, levei minha vó seis vezes ao médico e meu vô mais quatro. Nessas idas ficamos amigas da enfermeira que semana após semana contava do pai: 

– Meu pai tem 70 anos, mas fumou a vida inteira, está com dores no peito. Fomos fazer tomografia.

– Pegamos a tomografia, pelo que eu vi é grave, hoje vamos ao pneumologista.

– Pneumologista disse que não era aquele problema grave, mas agora não sabemos o que pode ser. Ele pediu uma biópsia.

– A biópsia demora 40 dias, mas se for câncer, para começar o tratamento pelo SUS tem que ir até dia cinco com o resultado do exame no hospital, se não, só no outro mês.

– A biópsia deu negativa, mas o médico sugeriu fazer cirurgia, ele vai precisar ir para Sorriso. Na minha família eu que estou colocando mais pressão para ele fazer a cirurgia.

– Meu pai está na UTI, quando abriram a barriga dele viram que era câncer e já tinha dado metástase. Quem dera não tivéssemos feito a cirurgia.

– Meu pai morreu, olha como emagreci. Ele não aguentou a cirurgia, ficou quatro dias na UTI e dois no quarto. Ainda estou pagando os exames.

Acompanhamos a evolução do pai dela, foi muito rápido, dentro de três meses. Enquanto isso meus avós na mesma, com dores impassáveis, mas sem pioras exageradas. 

Ah, e sem planos de mudar de cidade.


P.S.: O tempo passou para os amigos dos meus avós também: nessa semana vieram trazer a foto feita como lembrança pela morte do Zé Grande. Morreu de câncer de próstata e COVID com 49 quilos. Aproveitaram para passar na vó porque iam ao médico que não tem em Santa Helena.



Obra: "Sister Fry" - Alfred Reginald Thomson (1894–1979)


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