Dia de passeio
"Praia com Guarda-Sol Verde" - Raquel Taraborelli
Pintora brasileira contemporânea
Minha vó foi na praia uma vez.
Foi por volta de 1990, numa excursão para Aparecida do Norte e depois uma passada em Praia Grande/SP. Levaram meu primo mais velho (Luiz, que devia ter uns 15 anos).
Na missa do fim do dia em Aparecida, a Nice entraria de joelhos e minha vó queria ver. Nice teve convulsões por toda a vida e foi compelida a casar com um primo. Ele não gostava dela, depois de uns 20 anos separaram-se, sem filhos (mas isso foi uma década depois da excursão em Aparecida).
Mas minha vó não conseguiu ver o evento porque almoçou muito cupim salgado e passou mal. Meu vô chamou o guarda e ele respondeu: o postinho de Aparecida já fechou, vocês terão de ir para Santa Casa. Alexandre, um menino da excursão um pouco mais novo que meu primo viu e quando deram por falta da Rosa e do Catonho ele avisou: eles saíram no carro da polícia. Difícil dizer se alguém acreditou.
No hospital mediram a pressão da minha vó: vinte por tantos, quase infartou. Meu vô se deu conta de que precisava avisar o pessoal da excursão. Então foi na recepção e pediu para ligarem no Hotel Cruzeiro. A secretária disse que por esse nome tinha, pelo menos, três hotéis na cidade. Ele disse: um em frente a rádio. E deu certinho! Ligou e avisou que a Rosa passou mal, e já voltavam.
O dia seguinte era dia de ir para praia, queriam deixar meus avós lá em Aparecida: “Nem pensar! Já estou boa!” e embarcaram. Passaram o dia na praia, compraram milho e biscoito de polvilho. A noite resolveram ir a missa: não viram nada, cochilaram o culto inteiro. Ao término uma das amigas da minha vó chamou: “Vamos! Ou o padre cobra o pouso!”.
Não houve outra vez na praia.
Voltaram para o interior e o mundo ficou cada vez mais pequeno, só saem para médico e nunca mais andaram num carro da polícia.
#vóRosa #vôCatonho #avós
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