Qual é o ponto em que a vida de alguém toma o rumo que toma?




Nesses seis anos de Defensoria nunca havia encontrado alguém conhecido, mas aconteceu há um tempo.

Quando eu estava na terceira série, a professora mandou a gente fazer um cartaz como trabalho de escola, minha dupla foi o Igor, um menino que depois descobri morava na rua perpendicular à casa da minha vó.

Fomos eu e meu irmão da casa da minha vó para a casa do Igor fazer o cartaz. Brincamos até umas 16:30h e depois fizemos o trabalho (dessa parte na verdade eu não me lembro) para voltar às 17h para casa. Ele tinha uma cama com uma gaveta de brinquedos, talvez tenhamos lanchado.

Tempos depois, a professora avisou a turma que ele havia sofrido um acidente e estava internado. Ele nunca voltou para a escola, e esse foi sempre um assunto solto na minha memória: “será que ele morreu? Perdeu a perna?”.

Provavelmente a mãe o tirou da escola enquanto ele estava internado e depois matriculou em outra (mais barata ou pública).

Mas recentemente ele apareceu na Defensoria. Me lembro de quando estava preso e tinha informação de que queria ir para penitenciária de Cuiabá, ou vice-versa. Está no semiaberto, usando tornozeleira eletrônica. 

Não procurei saber o crime, mas como se eu quisesse estabelecer o porquê de nossas vidas tomarem rumos completamente diferentes, eu me perguntou se foi aquele atropelamento. 



A obra é Mestiço, 1934 – Candido Portinari (Governo do Estado de São Paulo, 1935)



#DefensoriaMT

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