As três gestações da vó Rosa

Minha vó não tinha dilatações para ter seus filhos, precisou fazer três cesarianas e depois determinaram-lhe uma laqueadura. 

Vó Rosa casou-se em maio de 1960 e já em janeiro de 1961 teve o primeiro filho. Entrou em trabalho de parto numa quinta feira, teve dores por dias, até que na segunda-feira o médico disse a meu vô: “vamos fazer uma cesariana para tentar salvar a mãe, pois o bebê já se foi”. 

Ela recebeu uma anestesia do umbigo para baixo e viu seu primeiro bebê nascer “preto”, como se de um roxo extremamente forte. O médico, dr. Mário, muito católico, disse às enfermeiras: “batizem!”. Batizaram-no por José Maria (se fosse menina, chamaria Maria José). 

Vó Rosa foi para o quarto, puseram um bercinho ao lado da cama com aquele bebezinho que mal chorava, e o médico disse a minha vó: “Se seu bebê sobreviver a essa injeção (que era bastante grande) ele ficará bem”. Depois disso, meu tio só beirou a morte novamente quando pegou COVID aos 60 anos.

O segundo bebê veio no ano seguinte. Mas como a esposa do “Caneco”, um casal de japoneses que arrendava parte da terra dos meus bisavós Amélia e Frederico teve o primeiro filho de cesariana e o segundo de parto normal, nona Mélia disse que minha vó também podia.

Esse trabalho de parto durou dois dias. A sogra da minha vó dizia que para ter um bebê era preciso o “suor da morte”. Era julho, extremamente frio e por isso minha bisa aprontou umas brasas de espiga de milho e pôs numas assadeiras em volta de minha vó. E entre as contrações ela só pensava: “como vou suar nesse frio?”.

Mandaram chamar o médico que veio de jipe umas duas horas depois: “Mas Catonho, você me chamou para ver a Rosa? A Rosa não tem parto normal, temos de levar ela para o hospital!”. Contaram então da esposa do Caneco e ele disse: “Caso a Rosa tenha parto normal os socos do jipe nessa estrada vão ajudar”.

Na terceira gravidez, em 1966, a cunhada da minha vó que era vizinha, também estava gestante. Antes de 1966 a contagem era de três meninos da tia Luzia e dois da vó Rosa. Ambas queriam uma menina dessa vez. Minha mãe nasceu em março e o filho da tia Luzia nasceu em maio (o Flori: Florisvaldo) que tinha ganhado um enxoval de roupas rosas da tia do lado de lá. Usou-as mesmo assim. 

O parto da minha mãe foi logo depois de ter estourado a bolsa. 

Minha vó é de uma época em que as cesarianas eram na vertical e não na horizontal. Em que se descobria o sexo do bebê só quando nascia, e não se fazia pré-natal.

Não contei, mas minha vó teve um aborto espontâneo antes de ter minha mãe, diz que expeliu um feto pequenino, depois de um dia intenso e quente na roça. Disse que era uma menina, mas eu acho que poderia ser um menino pois o sexo visível é quando a gestação está mais avançada. 

Minha vó não tem pesares sobre querer ter mais filhos, embora ela tenha tido poucos para os padrões da época. Acho que tem a ver com as dores que sofreu.



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